Luís Cabral

Em muitas ocasiões, quando ultrapassávamos uma etapa da luta, com as revelações muitas vezes estranhas que ela trazia, o Amílcar referia-se à sua esperança de não morrer sem escrever sobre tudo isso. Era fundamental dar às gerações futuras a oportunidade de conhecer a maravilhosa história da nossa libertação, na riqueza das nossas contradições, na grandeza da coragem e da abnegação que foram necessárias para levá-la até ao fim. (...)

Compreendi, então, que a rica experiência vivida por mim na luta do nosso Partido e a vivência quotidiana com muitos dos homens que a fizeram de maneira abnegada corriam o risco de se perder. Foi quando comecei a sentir uma necessidade profunda e constante de registar as minhas lembranças sobre a vida e a luta que tive o privilégio de compartilhar com o Amílcar, cuja personalidade marcou toda a minha vida, desde os dias tranquilos da infância, quando juntos passávamos as férias escolares em Cabo Verde, em casa do nosso pai, na Achada Falcão. 

Considero este trabalho uma modesta homenagem à memória do Amílcar (...) 

Luís Cabral 

Memórias e Discursos

APRESENTAÇÃO

Nesta obra, estão reunidos textos não publicados de autoria de Luís Cabral, redigidos na década de 2000, e que ele intitulou “Crónica II”.

Tratando‐se de textos incompletos, foi desejo da viúva e dos filhos que fossem mesmo assim publicados, e dados a conhecer ao público em geral.

Trata‐se sobretudo de um relato na primeira pessoa dos acontecimentos mais marcantes que ocorreram de 20 de Janeiro de 1973, data do assassinato do seu irmão e líder do P.A.I.G.C. (Partido Africano para a Independência da Guiné‐Bissau e de Cabo Verde), Amílcar Cabral, até ao dia 24 de Setembro do mesmo ano, data da proclamação da independência da Guiné‐Bissau.

Com a anuência dos herdeiros, a estes textos juntaram‐se alguns documentos, a saber:

·         –  uma carta da cunhada Maria Helena Vilhena Rodrigues Cabral, do ano de 1960, dirigida a Luís Cabral, reveladora da forte cum‐ plicidade existente entre Luís e Amílcar, este último sempre mui‐ to presente nos relatos do primeiro;

·         –  o discurso pronunciado por Luís Cabral aquando da proclamação da independência da Guiné‐Bissau, na qualidade de Secretário‐ ‐Geral adjunto do P.A.I.G.C. e de Presidente do Conselho de Estado eleito do novo país independente;

·         –  um texto elaborado por si por ocasião da abertura das negocia‐ ções com o governo português com vista ao reconhecimento da independência da Guiné‐Bissau, após o golpe de Estado perpe‐ trado em Portugal a 25 de Abril de 1974.

Reuniram‐se também neste volume 19 discursos proferidos por Luís Cabral na qualidade de Presidente do Conselho de Estado da República da Guiné‐Bissau, de 1975 a 1980. Foram reproduzidos a partir do periódico guineense Nô Pintcha, e para sua selecção optou‐se preferencialmente pelos que tinham sido publicados como textos autó‐ nomos e não parcialmente no corpo do texto jornalístico.

Seguindo este critério, muitos excertos de discursos ficaram por reproduzir, nomea‐ damente os respeitantes a muitas das visitas oficiais a países estran‐ geiros ou às diversas visitas presidenciais às regiões da Guiné‐Bissau.

As fotografias foram selecionadas de entre as que integram o acer‐ vo do Arquivo Amílcar Cabral, depositado na Fundação Mário Soares, em Lisboa, tendo o jornal Nô Pintcha sido consultado no Centro de Re‐ cursos do C.I.D.A.C. (Centro de Intervenção para o Desenvolvimento Amílcar Cabral), na mesma cidade.

Por último, inseriram‐se excertos de uma entrevista concedida em Fevereiro de 2000 à organizadora do volume, que, em tom coloquial, versa mais sobre a socialização familiar, incidindo sobre variados as‐ pectos da vivência nas sociedades coloniais cabo‐verdiana e guineense na segunda metade do século XX.

 No conjunto, trata‐se de documentos que integram o património histórico da Guiné‐Bissau e de Cabo Verde, cuja divulgação certamen‐ te contribuirá também para um conhecimento mais aprofundado das complexas e controversas realidades históricas de Portugal e de África na segunda metade do século XX.

Agradecemos ao C.I.D.A.C. e à Fundação Mário Soares pela cedên‐ cia dos documentos que integram os seus arquivos ou que aí estão depositados e aos herdeiros de Maria Helena de Vilhena Rodrigues Cabral, representados pela Doutora Iva Maria Cabral, pela autorização de publicação da sua carta.

Agradecemos de igual modo os profissionais destas instituições com os quais tivemos o prazer de colaborar, que tal como os da Fun‐ dação Calouste Gulbenkian e da Tipografia Lousanense, pelo interesse demonstrado, pela pronta colaboração e pela compreensão relativa‐ mente às nossas limitações deram um contributo indispensável para a concretização deste projecto.

Lisboa, Maio de 2014

Ângela Sofia Benoliel Coutinho

1º Crónica da libertação

Em muitas ocasiões, quando ultrapassávamos uma etapa da luta, com as revelações muitas vezes estranhas que ela trazia, o Amílcar referia-se à sua esperança de não morrer sem escrever sobre tudo isso. Era fundamental dar às gerações futuras a oportunidade de conhecer a maravilhosa história da nossa libertação, na riqueza das nossas contradições, na grandeza da coragem e da abnegação que foram necessárias para levá-la até ao fim. (...)

2º Memórias e Discursos

Nesta obra, estão reunidos textos não publicados de autoria de Luís Cabral, redigidos na década de 2000, e que ele intitulou “Crónica II”.

Tratando‐se de textos incompletos, foi desejo da viúva e dos filhos que fossem mesmo assim publicados, e dados a conhecer ao público em geral.